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A transformação da escola pública em números

Quem já experimentou perguntar a alunos do 9º ano do Ensino Fundamental "qual o seu sonho?" sabe o tamanho do desafio dos educadores para transformar a dura realidade social das escolas públicas. Não bastasse o esforço do ensino dos conteúdos, a equipe escolar precisa motivar, incutir esperança e mostrar caminhos, na tentativa de despertar no estudante a capacidade de perceber além do agora, apresentando-lhes o futuro.

Todavia, o trabalho árduo de compromisso com o outro e com a justiça social começa a provocar uma mudança de cenário em um contexto tão sombrio. No Recife, entre 2013 e 2016, as respostas dos estudantes, quando submetidos à pergunta crítica ("qual o seu sonho?"),começaram a mudar, e melhor: caminhos surgiram, e números denotaram a velocidade da transformação. Em 2013 e 2014, cerca de 30 estudantes, dos pouco mais de 2 mil que concluíram os anos finais do Ensino Fundamental da rede municipal de ensino do Recife/PE, eram aprovados anualmente para escolas técnicas estaduais ou federais. Em 2015, o número mais que triplicou: 111 foram aprovados. E, em 2016, dobrou: 226 aprovados. Ou seja, entre 2013 e 2016 houve um salto de quase dez vezes mais aprovados em escolas técnicas.

Alguns podem achar pouco um em cada dez estudantes serem aprovados nas instituições de Ensino Técnico, mas já imaginou o impacto no futuro desses garotos que terão uma oportunidade desconhecida? Ganharão o direito de sonhar, de acreditar na capacidade de se superar e não repetir gerações passadas, de buscar uma profissão e – por que não? – o Ensino Superior.

O impacto social para o desenvolvimento do município também é enorme. As escolas técnicas estaduais têm os melhores Índices de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb’s) do estado, acima das propaladas escolas de educação integral, as quais, por sua vez, já apresentam níveis de aprendizado superiores às escolas regulares. Vale salientar que Pernambuco detém o melhor Ideb do País no Ensino Médio. Mesmo sendo um parâmetro baixo (3,9 em uma escala de 0 a 10), podemos afirmar que é o melhor lugar no País onde esses estudantes com contexto socioeconômico tão desfavorável poderiam estar estudando, e 10% estão lá.

Pesquisas recentemente divulgadas comprovam a correlação entre melhor aprendizado e crescimento econômico em longo prazo. Quanto melhor o aprendizado nos ensinos Fundamental e Médio, mais estudantes ingressam na universidade e potencializam sua renda ao entrar no mercado de trabalho. Com capital humano fortalecido, as cidades elevam seu nível de competitividade frente ao mercado global e atraem investimentos.

Não sei quantos anos de manutenção e melhoria desse esforço comprovará tal tese, mas tenho certeza de que uma parcela cada vez maior, ano a ano, terá o direito de sonhar. E seus sonhos serão compartilhados com outros e reverberarão no espaço social e econômico da cidade. Na escola pública de Ensino Fundamental, os colegas verão exemplos mais próximos, e o efeito positivo dos seus pares reforçará a crença no futuro possível. E tudo isso partindo de um só fator fundamental: dedicação e compromisso de educadores com a cidadania dos estudantes. Sensação de plenitude em vivenciar e poder contribuir de alguma forma com este momento. Esses professores também me fazem sonhar.

Um forte abraço e até a próxima leitura. Newmark | Educar para a excelência.